3.9.07

Pensar e sentir?...ou...Sentir e pensar?

"(...) Platão queria encontrar algo eterno e imutável no meio de todas as transformações. Deste modo, encontrou as ideias perfeitas, que são superiores ao mundo sensível. Além disso, para Platão, estas ideias eram mais reais do que todos os fenómenos da natureza. Primeiro, vinha a ideia «cavalo» - em seguida, todos os cavalos do mundo sensível, que galopavam como cópias na parede de uma caverna. Logo, a ideia «galinha» veio antes da galinha e do ovo.

Aristóteles achava que Platão tinha posto tudo às avessas (...) a ideia «cavalo» é, para ele [Aristóteles], apenas um conceito que nós homens formámos, depois de termos visto um determinado número de cavalos. Para Aristóteles, a «forma» cavalo consiste nas características do cavalo - diríamos hoje na espécie cavalo.

Vou precisar: pela «forma» cavalo, Aristóteles designa aquilo que é comum a todos os cavalos (...) Para Aristóteles, as «formas» residem nas próprias coisas como qualidades específicas das coisas.

(...) Para Platão, o grau máximo de realidade é o que pensamos com a razão. Para Aristóteles, é igualmente evidente que o grau máximo de realidade é o que percepcionamos ou sentimos com os sentidos. Segundo Platão, aquilo que vemos à nossa volta na natureza é apenas reflexo de algo que existe no mundo das ideias - e consequentemente na alma do homem. Aristóteles dizia exactamente o contrário: aquilo que está na alma do homem é apenas reflexo dos objectos da natureza. O mundo real é a natureza, segundo Aristóteles, enquanto Platão fica preso a uma concepção mítica do mundo que confunde as representações do homem com o mundo real.

Aristóteles aponta para o facto de que nada existe na consciência que não tenha existido primeiro nos sentidos. Platão poderia ter dito que não há nada na natureza que não tenha existido primeiro no mundo das ideias.

(...) Aristóteles defendia que tudo o que temos em pensamento e em ideias chegou à nossa consciência através daquilo que vimos ou ouvimos. Mas também temos uma razão inata (...) Aristóteles não [o] negava (...) Muito pelo contrário: para Aristóteles , a razão é precisamente a característica mais importante do homem. Mas a nossa razão está completamente «vazia» enquanto não sentirmos nada. Logo, um homem não possui «ideias» inatas."


Jostein Gaarder, em "O Mundo de Sofia"
Imagem: google.com, pesquisa em "Alegoria da caverna"

Pensar e sentir?...ou...Sentir e pensar?

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