20.1.09

Viver, acreditar e amar...

"Ali estava ela, desesperada e sem controlo sobre a sua vida. Enrolada sobre si, não sabia se haveria de chorar ou gritar.
O estômago embrulhava-se na ansiedade de não saber o que se passava, de não saber o que fazer. O medo apoderava-se do seu corpo...sentia o coração a mil por hora, a cabeça latejava e parecia ser invadida por todas as ideias que mais queria afastar...apenas não queria perder aquilo que tomava como certo na sua vida, que alimentava a sua alma diariamente.
Sabia que já tinha cometido erros. Embora, agora, julgasse que não tinha feito nada de demasiado errado para merecer isto...podia ter-se portado melhor é verdade, mas tantas foram as mudanças em simultâneo que ficou sem saber como reagir...e nunca tinha tido más intenções.

Um outro medo menor, mas igualmente inoportuno que se chegava a confundir com tudo o que já sentia, era o de pensar que algo lhe estaria a consumir o corpo. Algo um tanto ao quanto silêncioso, mas que se manifestava nas piores alturas. Sentia-se cansada a poucos esforços, sentia dores pelo corpo leves mas constantes. Aquelas palpitações súbitas, como quem estivera a correr...já tinha até contado...100 batimentos por minuto em repouso e o seu estômago cada vez tolerava menos o que quer que fosse. Sentia-se agitada, mas fraca demais ao mesmo tempo. Era estranho, assustador...sobretudo quando se sabe o quão fugaz pode ser a vida...e como num segundo tudo muda...
Tudo muda, mas ela não queria que mudasse nada. Queria manter-se a menina quase mulher, forte que todos conheciam, que conseguia sempre controlar-se até nos piores momentos. Que lhe estaria a acontecer? Crise existêncial?
Já não sabia em que pensar. A que se deviam os seus sentimentos controbados, a sua actual instabilidade? Também não queria transparecê-los em demasia para ninguém. Queria ser capaz de ultrapassar tudo sozinha, como sempre fez...o pior é que algumas pessoas já andavam a inquirir o que se passava. Como a conheciam bem! Afinal não conseguia disfarçar tanto quanto pensava.

Nem chorar conseguia...talvez ajudasse a aliviar um pouco. Precisava manter a cabeça fria, porque tinha de ser...
Queria resolver tudo o quanto antes, queria viver ainda tudo o que não tinha vivido com quem ama a seu lado...o seu namorado, a sua família e os seus poucos mas bons amigos...nada mais desejava senão viver, desde que amada, pois isso seria suficiente para enfrentar tudo...

Já tinha passado por um momento na sua vida semelhante...não queria passar por tudo de novo...não agora, não nesta fase da vida...onde já tinha descoberto o que queria fazer com a sua vida, onde já tinha encontrado aquela pessoa que a compreendia melhor que ninguém, que a completava, e queria ter a seu lado até ter todos os cabelinhos brancos e ficar sem dentes...onde já tinha descoberto amizades verdadeiras, pelo menos muito mais que as que outrora considerara verdadeiras. Julgava já se ter encontrado, não se queria perder novamente.

Pegou no seu diário e escreveu tudo o que lhe ia na alma. Resultava muitas vezes. Deu por si a chorar, finalmente. Conseguira um pouco de alívio para a sua alma. Não o suficiente contudo.
Queria acreditar que ia ser capaz de resolver tudo, que não se ia perder, que nada de errado se passava, que eram tudo momentos que advinham das circunstâncias actuais, que tudo resultava do stresse que tinha a todo o custo tentado combater. Sempre acreditara que com calma, paciência, tolerância, sinceridade e com muita comunicação, as situações se resolveriam.

Acreditava que o amor que sentia por todos, pela família, pela sua cara metade, pelos seus amigos estaria presente para ultrapassar tudo. Com amor, tudo se consegue ultrapassar. Ás vezes precisamos de estar sozinhos, ela tinha de admitir, para nos recompormos e enfrentar o mundo. Mas sem amor, nada seria possível. Pensava naquele momento que se todos se amassem mais tudo seria tão melhor, tão mais fácil mesmo nos piores momentos. Pronto, há diferentes formas de amar e tinha aprendido isso ao amar.

Queria agora redimir-se de todos os que alguma vez ou de alguma forma magoou. Sabia que já tinha tentado e mesmo assim ficou sempre algo por resolver. Na sua "outra vida" como as vezes pensava, a principal lição que aprendera fora a não deixar nada por dizer ou por fazer. Por isso, queria que o mundo soubesse que amava: amava incondicionalmente a sua família, apesar de todas as adversidades; amava o seu pequeno menino de um modo como nunca tinha amado ninguém, era indescritível e nada mais queria senão apoiá-lo e estar ao seu lado sempre que ele precisasse e quisesse; amava os seus amigos, que lhe aturavam o seu feitio tão próprio, que a alegravam e que a apoiavam sempre. Amava a vida e queria continuar a amar assim.
Não conseguia imaginar a sua vida sem eles, porque todos eles a ajudavam a ser quem era. Eram eles a sua força.

Havia de resolver tudo. Afinal a vida é feita de altos e baixos e é assim que crescemos e sobrevivemos, pensava ela. Havia de ultrapassar isto com os que amava...um dia de cada vez, dando espaço e tempo para que tudo se resolvesse. Seria paciente e acreditaria piamente que o amor move montanhas, como uma vez ouvira dizer. Lembrara-se de uma frase que uma vez lera e que dizia qualquer coisa que se traduzia por nos calarmos e deixarmos ouvir o coração falar...e foi o que fez...ouviu o seu coração...e ele sussurou: ama...amo-te e amo-vos...

Ela iria acreditar..."

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